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A Calheta de Pêro de Teive passou à história

 

Os autarcas eleitos estão a iniciar mandatos, retomando medidas eleitorais, com juras de realizações imediatas, algumas, outras ao longo de quatro anos.

Em Ponta Delgada, o novo Presidente social democrata prometeu que a Câmara “não vai ser sede de partido político, nem centro de contrapoder”.

Do seu discurso, poderíamos destacar outros conceitos visando a “credibilização da política”, o “diálogo institucional e social”, e a intenção de prestar “aos mais carenciados” um serviço primordial visando a “coesão social e territorial”. Interessante foi o reiterado compromisso no orçamento participativo que trará à gestão camarária um importante e novo contributo cívico, com resultados já conseguidos noutros municípios portugueses, lamentavelmente, muito poucos ainda.

O repto lançado leva-me a questionar um dos temas destacado na cerimónia: o compromisso de agendar, para o primeiro mês de mandato, as obras inacabadas das galerias comerciais e do Hotel Casino, na sequência de um compromisso público “claro e inequívoco” tomado em resposta ao “Movimento Queremos a Calheta de volta”.

E, como se este fosse o problema mais grave de todo o Concelho, será comunicado à Comissão Europeia, dado que as obras foram cofinanciadas, o compromisso camarário de demolir as galerias construídas no aterro da antiga Calheta de Pero de Teive, aquando do prolongamento da marginal e da marina, projeto aprovado pela Câmara.

Já então, um dos esboços alternativos, mas recusado devido aos elevados custos, salvaguardava a enseada e previa a construção de um aqueduto.

Admira-me que, agora, respeitáveis cidadãos, venham reclamar a recuperação marítima da Calheta ou a urbanização do espaço, propondo, inclusive, a implosão do hotel.

Penso que qualquer destas soluções é irrealista e contradiz os propósitos de privilegiar a resolução das carências dos mais necessitados, dos desempregados, em “travar o êxodo da baixa da cidade”, dinamizando e implementando o centro histórico.

Reclamar agora a antiga Calheta, só porque há edifícios inacabados, e de estética discutível, é de um saudosismo questionável. A ser assim, por que não recuperar-se também, no centro histórico, a varanda de pilatos ou o velho cais, junto às portas da cidade, há uns anos parcialmente desaterrados sem que a autarquia e os munícipes se mostrassem interessados em mantê-los descobertos?

Devido aos elevados custos, não é sensato nem economicamente correto deitar ao chão espaços de valia potencialmente apreciável. Não servirão já para galerias comerciais porque os tempos são de crise e a economia e o comércio tomaram outros rumos, mas por que não direcioná-los para outras atividades e serviços a que análises de novos mercados abrirão as portas?

Na busca de soluções, é importante envolver a Câmara do Comércio, a Autarquia, o Governo, instituições ligadas ao turismo, à cultura e às artes, à saúde  e até ao ensino, para que não se desbarate investimentos cofinanciados e se dinamize a frente marítima da cidade.

Ponta Delgada, com as obras de prolongamento da Avenida e da Marina – construída com muita prudência para que os faialenses não sentissem afetada a marina da Horta – passou a ter uma relevante dimensão atlântica, valorizada, sobretudo, pelo cais de cruzeiros das Portas do Mar.

O entendimento dos dirigentes europeus em resposta aos propósitos camarários será, certamente, este: encontrar alternativas e nunca demolir.

Ponta Delgada é uma cidade com tantas carências que não se pode dar ao luxo de priorizar a resolução do problema das galerias inacabadas da marginal e, muito menos, de gastar recursos financeiros com a sua demolição. A ser assim, tê-lo-ia de fazer,  igualmente, com prédios inacabados e degradados, espalhados pela cidade.

No meu modesto contributo de cidadania, recomendo muito bom senso, antes de demolir o que custou a construir, com o dinheiro de todos nós.

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